Bom, acreditamos que muitos advogados ficam na frente do espelho hipnotizados, repetindo: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais especial do que eu?”
Ah, e não nos entendam mal, pois é bom a gente se achar especial. Mas, quando é um delírio meio coletivo e passamos a acreditar MESMO que somos mais importantes que os outros simplesmente porque fomos ungidos pela OAB ou por que existe uma referência qualquer lá no art. 133 da Constituição Federal ao papel do advogado, bom, aí a gente precisa urgentemente de um remedinho.
Quando a gente olha de verdade pro advogado e para a advocacia de fora do País das Maravilhas de Alice, a verdade é que a gente sai da faculdade com uma síndrome de Neymar (tradução: aquele ar arrogante, travestido de humildade). Sim, o bacharel de direito é chato, acha que tem resposta para tudo e tem certeza de que vai colocar o mundo nos eixos (porque o mundo está de cabeça para baixo e só ele consegue ver como todas as coisas deveriam ser).
E, quando a gente olha com atenção para a advocacia, a gente percebe com certa tristeza que o advogado está é mais preocupado com ele mesmo e na prática do colega dele que está dando certo (sendo que o CERTO aqui é a percepção de CERTO do advogado, que mede POMPA como sucesso. E POMPA é gastar mais dinheiro do que você, ter mais título na parede do que você e ser mais prolixo do que você – e você, claro, tá louco para achar algo de errado no colega 😊). Afinal, nada mais normal, né? Vira uma competição de quem fala com vocabulário mais difícil.
Como queremos reinventar a advocacia?
Não tem ninguém muito preocupado com aquilo que pensa quem consome o serviço jurídico (o nome desse sujeito é CLIENTE). E bem pouca gente se preocupa também com aquilo que pensa quem pretende prestar o serviço jurídico no futuro (estes, em grande parte, são os jovens e estudantes de hoje). Afinal, basta esconder as tatuagens, tirar o piercing, pintar o cabelo, colocar o salto da sua mãe ou a gravata do seu pai que você nunca usou, correr para a entrevista, falar o que alguém quer ouvir, conseguir o emprego, cumprir ritos que você não entende por uns 8 a 10 anos no escritório e, pronto, carreira feita, não é mesmo?
Pois é. Mas o que nós queremos mesmo é tirar os advogados desse sono profundo com um beijão de príncipe, para que a gente volte a se preocupar com aquilo que realmente importa: ajudar as pessoas a resolver problemas (inclusive – ou principalmente – pequenos problemas) por meio do Direito e criar novas oportunidades para que mais colegas possam contribuir com a gente nessa tarefa.
Eu sei. Virou textão, mas a gente quer compartilhar nossa visão. De tempos em tempos, vamos trazer aqui alguns temas polêmicos para sacudir vocês ou promover algum tipo de reflexão honesta aí no seu coraçãozinho. Tenho certeza de que muitos de vocês não vão concordar com tudo que vamos escrever. E isso é bom. Ainda que suas paixões estejam à flor da pele, vamos sempre exigir respeito por aqui. Então aprenda a discordar direito também.